O festival do ódio
facilita a operação simpatia
Péricles Capanema
Para não virar barata tonta, ao analisar o presente sempre
é bom voltar os olhos para a História. Manifestações carregadas de ódio e de
vingança a respeito do falecimento de dona Marisa me lembraram a Revolução
Francesa. Fui reler a justificação do Terror, exposta por Robespierre em
discurso à Convenção, 5 de fevereiro de 1794. Ali o líder da Revolução Francesa
expôs os princípios da política interior do governo: “A primeira máxima de
vossa política é [...] deve-se conduzir os inimigos do povo pelo terror. [...]
A mola do governo popular [...], é o terror, sem o qual a virtude é impotente. O
terror é tão-só a justiça rápida. [...] Subjugai pelo terror os inimigos da
liberdade. [...] O governo da República é o despotismo da liberdade [...] A
indulgência para os monarquistas, querem alguns. [...] Na República só os
republicanos são cidadãos. Os monarquistas são estrangeiros, melhor ainda,
inimigos. [...] Faz parte da clemência punir os opressores da humanidade; é
barbárie perdoá-los”.
O Terror da Revolução Francesa empalideceu-se diante do
Terror comunista. Robespierre foi mirrado antecessor de Lenin, Stalin e Mao,
moldados pela mesma ideologia e igual mentalidade. O tirano francês resumiu assim
o objetivo a todos eles comum: “A alma da República [...] é a igualdade. [...]
A primeira regra de vossa conduta política [...] a manutenção da igualdade”.
O PT grassou nesse terreno. E Fidel Castro, o mais
sanguinário tirano da América Latina, deus do panteão petista, é herdeiro
legítimo dos facínoras acima apontados. A ele Lula se referiu como “o maior de
todos os latino-americanos”, “voz de luta e esperança”.
Por que recordo tudo isso? Por perceber a mesma
mentalidade em centenas de manifestações nos últimos dias. Deixo abaixo
algumas, significativas e reveladoras. Leandro Fortes, responsável pela
propaganda do PT nas redes sociais na última campanha presidencial: “Todos
sabemos os nomes, os cargos, as redações e as togas de cada um dos responsáveis
pela morte de dona Marisa. Na hora certa, daremos o troco”. Renato Rovai,
editor da revista Fórum: “A morte de dona Marisa não foi natural. Ela foi sendo
assassinada aos poucos por um conluio, cujo pilar foi a mídia tradicional com
destaque ultraespecial às Organizações Globo, à grande maioria do Judiciário
envolvido nas investigações da Lava Jato e a uma classe política corrupta”.
Paulo Nogueira, do DCM em artigo “Quem matou Marisa?”: “Muitas mãos estão
manchadas de sangue. As da Globo, por exemplo.
Moro e a Lava Jato não seriam nada sem os holofotes ininterruptos da
Globo. A mídia como um todo participou da caçada a Lula com seu jornalismo de
guerra. [...] Os juízes do STF também têm sua culpa, dado a inércia com que
lidaram com os abusos de Moro. De novo: Moro não está sozinho. [...] Outras
mãos estão tingidas de sangue”.
Na entrada do
Sírio Libanês, Michel Temer foi cercado e acusado de “assassino!, assassino!,
assassino!, golpista!, golpista!, fascista!, fascista!”, além de insultado por palavrões
impublicáveis. E na expulsão do repórter César Menezes e do cinegrafista da
Rede Globo do velório a militância petista extravasou boçalmente o ódio no qual
é nutrida: “Safada, golpista, assassina. Globo assassina.
Fora, filho das trevas, tá preparando o berço de Satanás, anticristo. Maldita,
ninguém quer você aqui. Seu maldito, vai embora, pilantra, safado. Globo News
safada, fora daqui. Fora golpista, vocês não são bem-vindos, seus imundos. Vai
embora, nojo. Fora Globo. Filho das trevas, anticristo, anticristo maldito. Nazista.
A Globo é nazista. A Globo é nazista. Fascista”. E vai por aí afora. A
Folhapolítica.org estampou tuíte pra lá de revelador: “@Viniciusclash. A melhor
homenagem que alguém pode prestar a Marisa é matar Sergio Moro. 1:04 AM 02 fev
17”. Um lado da moeda, o ódio indisfarçado.
O outro. Existe o ódio envolto nas prudências
da política. Aconteceu também na Revolução Francesa e na Revolução Comunista. Lula pôs a máscara “Lulinha,
paz e amor”. Ele sabe, a jararaca quando mostrou as presas perdeu três eleições
presidenciais. Só venceu ao fechar a boca e garantir a manutenção da política econômica do governo FHC.
Alguns
sintomas. O morubixaba recebeu telefonema de
condolências do ministro Gilmar Mendes e senhora. As esposas dos dois tinham
sido amigas. Disse à senhora do ministro: “Guiomar, você perdeu uma grande
amiga. Ela gostava muito de você, falava sempre de você. Eu quero que você
saiba disso”. Dona Guiomar respondeu: “Vontade nunca faltou, presidente”. Lula acompanhou:
“O mundo é redondo, querida. E a gente ainda vai se encontrar”. FHC foi vê-lo;
o comandante petista comentou com políticos que depois estiveram com ele, o
gesto do líder tucano “foi um exemplo pedagógico para os jovens”.
Na visita da comitiva
multipartidária vinda de Brasília, esbanjou cordialidade e elogios. Para Renan
Calheiros reservou “um dos maiores craques da
política”. José Sarney foi agraciado com “meu companheiro” e “meu amigo”.
Cochichou por alguns minutos com Romero Jucá. No meio dos líderes não deixou
passar a ocasião, repetiu o que vem dizendo, o Supremo se acovardou diante da
Lava Jato. Quer um Supremo mais flexível. E no discurso que fez no velório o
que se viu foi um político preparando a candidatura para 2018. O caldo de
cultura estava todo ali, esquerda católica, intelectuais radicalizados e
líderes sindicais. O resignatário dom Angélico Sândalo Bernardino aproveitou
para torpedear as duas propostas de reforma na bica: “A Marisa Letícia foi uma
guerreira na luta a favor da classe trabalhadora. Atentem para as reformas
trabalhistas que sejam contra os trabalhadores; a reforma da Previdência,
contra pobres e assalariados. É preciso que estejamos atentos”. Em total
desprezo pela realidade emendou, a crise atual “é falsamente atribuída à
administração dos dois últimos governos".
Contradizem-se as duas
faces, a da intimidação e a da simpatia? Calibradas, são complementares. O
prof. Plinio Corrêa de Oliveira cunhou a expressão binômio medo-simpatia para a
caracterizar. A intimidação bem dosada atua como uma sova em setores
conservadores. A simpatia, enfrentando obstáculos menores, tem melhores
condições de êxito. Está em curso uma operação simpatia.
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