O Brasil servo
Péricles Capanema
A bancada do PT na Câmara Federal encaminhou ao
governo documento contendo sugestões para combater a crise econômica na qual o partido
jogou o país. O texto reconhece de saída “o segundo mandato da presidenta Dilma
se iniciou com a necessidade do ajuste das contas públicas visando evitar perda
do grau de investimento; essa perda aumentaria o custo do financiamento externo
e reduziria o volume de crédito para as empresas brasileiras e para o setor
público”. Roubalheira, incompetência, total irresponsabilidade e ainda a
cegueira ideológica nos lançaram da altura de bons pagadores para o buraco dos caloteiros,
a perda do mencionado grau de investimento; agora, mais pobres, com dinheiro
mais curto e mais caro, o PT se aproveitou da situação e tirou da cartola
proposta explosiva. Pior, dela não se fala.
As medidas de recuperação incluem as habituais e
controvertidas receitas, taxação sobre grandes fortunas, elevação da alíquota
do imposto de renda das pessoas físicas para até 40%, volta da CPMF e
legalização dos jogos do azar. Delas não falo aqui.
Trato de outra, facada no coração do Brasil: “A China
tem um conjunto de bancos de fomento que ofertam linhas de crédito e investem
em projetos no exterior. Esses bancos têm incrementado sua presença na América
Latina. Recentemente, o Banco de Desenvolvimento da China (BDC) assinou um
contrato de financiamento com a Petrobrás no valor de US$3,5 bilhões de dólares
a ser desembolsado entre 2015 e 2016. A possibilidade de captação de linhas de
financiamento de bancos estatais chineses deve ser melhor explorada. (...)
Existe possibilidade de acordos com a China para captar linhas de financiamento
de capital de giro de empresas nacionais”
Até aqui o documento do PT. À vera, vem de longe a
política chinesa de estabelecer Estados clientes na América do Sul. Os deputados
do PT, evidenciando o apoio do partido a esse plano, só empurram mais na
direção do Brasil manietado. Além dos empréstimos, no mesmo rumo, estão os tratados
comerciais que, proporcionalmente, vão nos afastando da área europeia,
norte-americana e japonesa e nos atando ao mercado chinês. A China já é a maior
parceira do Brasil, somos grandes fornecedores de commodities, matérias primas
e alimentos; em troca, recebemos de forma crescente produtos industrializados.
Lembra – não pouco, aliás – a situação das antigas colônias em relação às
metrópoles. Também em relevo, a compra frenética pelos chineses de ativos no
Brasil e ampla política de softpower
como cursos de mandarim, exposições, viagens. E estão no horizonte as pressões sobre
empresas brasileiras na China.
O PT está encharcado do internacionalismo
revolucionário, em especial de raiz marxista, que considera nações e Estados
anacronismos a serem extintos na fase da vitória final do proletariado, com a
generalização da vida comunal igualitária sonhada por seus ideólogos. E então,
por razão doutrinária, a massa de seus dirigentes faz pouco caso do que
considera a velheira obsoleta do amor ao país, de onde brota o apreço pela soberania.
Em harmonia com sua inspiração ideológica, cumprindo de fato missão
revolucionária, estimula e adensa política entreguista, alinha o Brasil aos
objetivos do PC chinês. O texto é claro, os empréstimos devem ser pedidos a órgãos
estatais da China, de outra forma, ao Estado chinês, dirigido pelo Partido
Comunista. E que, em hora oportuna, ninguém de bom senso duvida, objetiva e implacavelmente,
vai usar tais instrumentos para fazer valer suas vontades.
Por falar nisso, em nenhum momento, o documento do PT sugere
buscar financiamentos no Japão, Estados Unidos, países da União Europeia. Foge
deles como o diabo da Cruz.
Esses empréstimos, vários e vultosos, feitos pela
Petrobrás na China têm cláusulas secretas. A própria empresa alegou
confidencialidade (eufemismo para secreto) das condições de financiamento. E já
aqui, sem conhecê-las, arrisco palpite com 100% de acerto: tais cláusulas contêm
contrapartidas lesivas aos interesses do Brasil.
Dou um exemplo na vizinha Argentina. Ali desperta enorme
preocupação a cessão de duzentos hectares na província sulista de Neuquén para
uma estação espacial chinesa. Ricardo Adrián Runza, engenheiro especialista em
defesa e segurança adverte: “Nossos políticos nacionalistas e populistas entregaram
nossa soberania a uma potência estrangeira. A empresa responsável pela execução
deste trabalho e que terá a responsabilidade de operá-lo depende das Forças
Armadas da China”. A cessão é por cinquenta anos, renováveis por mais
cinquenta. A oposição falou em cláusulas secretas. É só o começo. E nem é o
mais importante o braço militar chinês sobre duzentos hectares da Patagônia. O
decisivo é a inserção chinesa na economia, na sociedade e na política, lá como
cá.
Para concluir, dias atrás Lúcio Vieira Lima, destacado
deputado peemedebista, hoje partidário do rompimento da aliança com o PT,
apontou o óbvio ululante: “É um governo totalitário. O chavismo no governo
sempre foi um sonho do PT, e agora passa a ser o Brasil o polo mais importante
desse projeto hegemônico e totalitário das esquerdas da América do Sul”.
Assim, contra o Brasil se fecham as duas pinças da
turquesa: de um lado, pressão do PC chinês; do outro, o projeto hegemônico. Processo
longo para uma vida humana, curto para a História. Descuidados, saímos aos
poucos a liberdade e afundamos na servidão dos Estados satélites. Remédio?, fim
do desleixo, cuidarmos do caso.
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