Horror divertido
Péricles Capanema
A presidente Dilma Rousseff em 7 de janeiro último durante
café da manhã concedeu sua primeira entrevista de 2016 aos jornalistas
acreditados no Planalto. Discorreu em especial sobre a política econômica do
governo. Não leu, apenas respondeu a perguntas. O vídeo e o áudio estão no site
da Presidência da República, consulta livre. Ocorreu o que sempre acontece
quando a presidente não lê textos preparados por outros. Com empáfia, do começo
ao fim, a locução estapafúrdia, evidência do pensamento confuso, acompanhada de
explicações professorais de assuntos corriqueiros, sintomas da vagueação
primária. A plateia a escuta com horror divertido. Para nós, já que nunca se
viu gente de reflexões desnorteadas apontar o norte, sem fatos supervenientes, com
sorte, teremos para o Brasil direção atrabiliária até 2018, com sofrimentos em
especial para os mais desassistidos. Muitos deles, perfeitamente evitáveis.
“Eu quiria comprimentá vocês, dizê que nós tamos
fazendo essa essa conversa que tinha qui
sê pré o dia 31 de dezembro tradicional, nós tamo fazendo pós, mas não tem
importância porque estamos comemorando aí o 24, o 31 e o Dia dos Reis, que foi
ontem, hi. Então, tá tudo nos conformes. Eu quiria comprimentá cada um dos
jornalistas aqui presentes que cobrem tradicionalmente o Palácio do Planalto,
cobrem aqui em Brasília, dizê que nós estamos aqui com o ministro Edinho, o
secretário de imprensa e o nosso conselheiro Carlos Villanova. Quiria dizê também
qui eu prifiro hoje que a gente faça perguntas, comece com perguntas. Na medida
qui as perguntas vão ocorrendo, né?, eu falo. Por que isso? Por que nós vamos
ter um tempo menor. Mas mesmo tendo um tempo menor, eu quiria que vocês
tivessem um tempo maior. [...]
Pergunta: Catarina Alencastro,
d’O Globo. O ministro Jaques Wagner ontem disse que não tem um coelho na
cartola para salvar a economia. Eu queria saber qual é a estratégia econômica
que o governo está programando para esses próximos tempos. Obrigada.
Presidente: “Olha, eu acho qui num tem uma, não tem um
coelho numa cartola, porque a questão da istabilidade macroeconômica, ela tem a
ver cum algum, eu diria assim, dois grandes, duas grandes ações, qui uma está
ligada a outra, qui nós temos de encaminhá. A primeira é a istabilidade macroeconômica.
A istabilidade macroeconômica, ela tem o seguinte componente fundamental: o reequilíbrio
fiscal do país, né? Nós viemos perdendo receitas de forma sistemática. Mesmo
com os cortes significativos que fizemos nas despesas, nós tivemos quase 104
bilhões, nós não conseguimos superá a queda acentuada da arrecadação decorrente
do fato de tê havido uma redução de juros, aliás desculpa, de lucros e
salários. A arrecadação também sofreu profundamente com o fato di qui houve nos
últimos dois anos, si ocê considerá todo o ano de 14 e o de 15 uma queda qui
evidencia o fim do superciclo das commodities. Então também todas aquelas
commodities qui são base da arrecadação do país, porque vamo lembrá qui são
base da arrecadação, tanto as minerárias como as petroleiras. Uma das fontes
fundamentais de arrecadação do governo federal é tributar toda essa atividade.
Então considerando que tudo isso caiu de forma bastante acentuada e hoje por
exemplo não há quem discuta se há ou se não há o fim do superciclo das
commodities, isso é dado, porque havia, no final de 2014 havia. Achavam que não
tinha, qui isso era o governo que tava falando para por algum outro motivo.
Isso provocou uma queda das receitas. Então nós tivemos de cortar bastante
despesas, se a gente olhá os dos 134 bilhões de redução de despesas qui nós
fizemos né?, nós reduzimos discricionárias e também de reduzimos obrigatórias.
Se eu não me engano, 82 e pouco de discricionárias e 25,6 de obrigatórias. A
diferença disso pra 134 é o que nós aumentamos de receita. Ou seja, muito
pouco. Para explicar o porquê qui mesmo assim você tem um problema fiscal
ainda. Então, a primeira questão nessa nossa equação é enfrentar o reequilíbrio
fiscal. Isso é muito importante porque enfrentar o reequilíbrio fiscal impacta
também na melhoria das condições de inflação e as duas questões têm a vê também
cum um o segundo elemento da nossa cunversa qui é a volta do crescimento. É
sabido qui é muito difícil você fazer um processo de reequilíbrio fiscal se,
pelo menos, parar com a queda da atividade econômica, porque a atividade
econômica alimenta os outros dois fatores, né? A atividade econômica, ela
sustenta essa redução, tanto das necessidades de receitas e cortes de despesas,
ela vai aumentar a arrecadação naturalmente e também ela tem um efeito bastante
significativo quando melhora ao equilíbrio fiscal ela impacta também de forma
bastante positiva na questão do crescimento. Então, esses dois fatores,
resumindo, estabilidade com crescimento, são fundamentais. Um vai garantir a estabilidade
fiscal e o combate à inflação, e o outro vai realimentar isso de forma
sustentável para que a gente possa, de fato, superar esse processo. Então, hein,
vamos dizê, no conceito geral, seria isso. A curto prazo, tá?, nós temos, nos
próximos três meses ações que nós vamos perseguir. Primeira ação: eu vou tentar
sintetizar em três. Mas a primeira ação. Nós temos de aprovar as medidas
provisórias tributárias que estão no Congresso. Uma qui além, que a gente pode
sintetizar, chamando de juros do capital próprio, ou seja, uma alteração nas condições
de tributação dos juros sobre o capital próprio, e a outra só sobre ganhos de
capital. Além dessa duas medidas tributárias, é fundamental depois a gente pode
fazê uma fala só sobre essa questão, a aprovação da DRU e da CPMF”.
Continua na mesma toada até o fim, mais de uma hora
depois. Pensando bem, teria sido melhor dar ao artigo outro título: Degradação.
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