quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Exigência inoportuna e hipócrita de mea-culpa

Exigência inoportuna e hipócrita de mea-culpa

Péricles Capanema

A Comissão Nacional da Verdade (CNV), que seria mais bem qualificada de Comissão Nacional da Mistificação, inventou agora outra: quer porque quer um mea-culpa público, institucional, outro jeito, um retumbante pedido de desculpas dos comandantes das três armas por causa da violação dos direitos humanos no período do governo militar, cometidos por colegas seus. Sem o mea-culpa será impossível a reconciliação nacional, um dos objetivos da comissão, alardeiam assanhados. Os outros dois, olha o detalhe, são a verdade e a memória.

Tudo bem, vamos ampliar essa reconciliação. Quanto mais reconciliação, melhor, né? Quem exige, precisa antes dar bom exemplo. Que tal a CNV, amiga, quero crer, da coerência de atitudes, fazer antes um pedido de desculpas, também institucional, ao povo brasileiro por estar desrespeitando escandalosamente a lei 12.528 que a instituiu? E, acertando o passo, passasse logo a obedecê-la na letra e no espírito. Seria também reconciliador, já que a meritória confissão mostraria o desejo de emenda, limitando, entre outras vantagens, a praga já bem disseminada nos últimos anos: a existência de dois tipos de brasileiros, os que estão obrigados a obedecer à lei, nós, você, e os privilegiados, aqui se colocou a turma da CNV, que estão acima dela, e impunemente para ela não dão a menor bola. Não advertiu Lula sobre seu aliado José Sarney, que ele não podia ser tratado como cidadão comum?

Com efeito, a lei que instituiu a CNV, desrespeitada pelos sete que a compõem, fala em investigar as violações de direitos humanos de 1946 a 1988. Neste período houve pavorosas violações de direitos humanos perpetradas contra soldados e oficiais, barbaramente torturados e assassinados pelo terror. A esse respeito, nem uma vírgula. Parece que para ela não tem importância nenhuma que oficiais e praças tenham sido covardemente torturados e assassinados no cumprimento do dever. Azar deles, quem os mandou estar contra os objetivos do terrorismo no Brasil? E a CNV tem ciência que nenhuma organização terrorista defendia a democracia. Queriam impor a ditadura do proletariado e não escondiam, confessavam publicamente nos documentos constitutivos. Hoje, a verdade a respeito também é esbofeteada. Todo mundo sabe que tais movimentos insurrecionais propugnavam a ditadura, mas, parece, todo mundo agora acha bonito mentir a respeito, fashion, politicamente correto, afirmar que defendiam a democracia. Aliás, um ponto útil para restabelecer a verdade e preservar a memória, está dentro dos objetivos legais da CNV. Obediência à lei aqui também.

Tem mais, mermão. A lei que instituiu a CNV afirma que deve ser “composta de forma pluralista”. Ou seja, entende-se, na mente do legislador o pluralismo na escolha dos sete membros faria com que várias correntes estivessem ali representadas. Sem dúvida, pode ser fator de reconciliação que pessoas de diferentes ideologias investiguem e denunciem violações de direitos humanos, não importa quem os tenha perpetrado. O Poder Executivo mandou às favas tal recomendação. Nomeou gente de um só espectro ideológico. Aqui está outro mea-culpa a ser feito, fato recentíssimo, normal que aconteça antes de exigir dos comandantes militares mea-culpa sobre acontecimentos de décadas atrás.

Os privilegiados da CNV (regem-se segundo lei privada, só para eles) exigem o mea-culpa militar, para que acontecimentos censuráveis de décadas atrás, nunca mais se repitam. De minha parte, eu, cidadão comum, quero o mea-culpa da CNV para que a hipocrisia atual não tenha direito de cidadania na vida pública brasileira e continue a alardear impunemente suas falsidades e parcialidades tendenciosas. É a minha mobilização pela verdade e pela memória, para fincar alicerces idôneos à necessária e verdadeira política de reconciliação. Quem não vê que é desumano e hipócrita exigir de oficiais superiores no comando de suas instituições que façam mea-culpa, quando se cala despudoradamente e não se leva na menor conta o sangue derramado por colegas de farda, que tombaram na defesa da pátria, lutando contra organizações que queriam extirpar a democracia de nossas terras?

Não acabou não. A CNV está torrando dinheiro público a mancheias. Este dinheiro em vez de alimentar atividade deletéria de burgueses empanturrados e privilegiados, a esquerda caviar, poderia muito bem estar sendo utilizado para pôr comida na mesa do pobre, tratar doentes e banguelas, que gramam de sol a sol desamparados pelo Brasil afora. Aqui outro mea-culpa prévio: pedir perdão público aos pobres por estar surrupiando dinheiro que normalmente deveria minorar sua sorte e, em vez disso, vem sendo torrado irresponsavelmente em atividades de propaganda ideológica destruidora. Seria ato meritório favorecedor de saudáveis políticas sociais.

Em resumo, tal medida, do jeito que está sendo exigida, vai botar o Exército de joelhos e estadear sua capitulação incondicional. Minha proposta de reconciliação: que antes os membros da CNV e o Executivo façam os mea-culpa que claramente devem à opinião pública, deem bom exemplo, evidenciem sinceridade e então solicitem aos comandantes das três armas um documento sensato, que eles teriam dificuldade de recusar. Ou então, se infelizmente obstinados na hipocrisia, pelo menos tenham a decência de não mais promover a desarmonia na sociedade brasileira. E então, coerentemente, calem a boca, deixem de torrar nossa paciência e de tratar os brasileiros como idiotas.


Um comentário:

gugu disse...

Putzzzzz! Vossa Senhoria tem tutano! Gostei! A Lei da Anistia é a Lei do Perdão, e quem perdoa, só pode perdoar se esquecer o passado. Ficar removendo cinzas de uma fogueira extinta por Lei, em "insana e furiosa" busca de algo que possa arranhar a ilibada conduta dos nossos Militares, é algo que faz o Fuhrer, Goering, Goebbels e outros nazis se contorcerem no túmulo (ou no inferno) Gustavo Ibraim Ceron