Exigência inoportuna e hipócrita de
mea-culpa
Péricles Capanema
A Comissão Nacional da Verdade (CNV), que seria
mais bem qualificada de Comissão Nacional da Mistificação, inventou agora
outra: quer porque quer um mea-culpa público, institucional, outro jeito, um
retumbante pedido de desculpas dos comandantes das três armas por causa da
violação dos direitos humanos no período do governo militar, cometidos por
colegas seus. Sem o mea-culpa será impossível a reconciliação nacional, um dos
objetivos da comissão, alardeiam assanhados. Os outros dois, olha o detalhe,
são a verdade e a memória.
Tudo bem, vamos ampliar essa reconciliação. Quanto
mais reconciliação, melhor, né? Quem exige, precisa antes dar bom exemplo. Que
tal a CNV, amiga, quero crer, da coerência de atitudes, fazer antes um pedido
de desculpas, também institucional, ao povo brasileiro por estar desrespeitando
escandalosamente a lei 12.528 que a instituiu? E, acertando o passo, passasse
logo a obedecê-la na letra e no espírito. Seria também reconciliador, já que a
meritória confissão mostraria o desejo de emenda, limitando, entre outras
vantagens, a praga já bem disseminada nos últimos anos: a existência de dois
tipos de brasileiros, os que estão obrigados a obedecer à lei, nós, você, e os
privilegiados, aqui se colocou a turma da CNV, que estão acima dela, e
impunemente para ela não dão a menor bola. Não advertiu Lula sobre seu aliado
José Sarney, que ele não podia ser tratado como cidadão comum?
Com efeito, a lei que instituiu a CNV,
desrespeitada pelos sete que a compõem, fala em investigar as violações de
direitos humanos de 1946 a 1988. Neste período houve pavorosas violações de
direitos humanos perpetradas contra soldados e oficiais, barbaramente
torturados e assassinados pelo terror. A esse respeito, nem uma vírgula. Parece
que para ela não tem importância nenhuma que oficiais e praças tenham sido
covardemente torturados e assassinados no cumprimento do dever. Azar deles,
quem os mandou estar contra os objetivos do terrorismo no Brasil? E a CNV tem
ciência que nenhuma organização terrorista defendia a democracia. Queriam impor
a ditadura do proletariado e não escondiam, confessavam publicamente nos
documentos constitutivos. Hoje, a verdade a respeito também é esbofeteada. Todo
mundo sabe que tais movimentos insurrecionais propugnavam a ditadura, mas,
parece, todo mundo agora acha bonito mentir a respeito, fashion, politicamente correto, afirmar que defendiam a democracia.
Aliás, um ponto útil para restabelecer a verdade e preservar a memória, está
dentro dos objetivos legais da CNV. Obediência à lei aqui também.
Tem mais, mermão. A lei que instituiu a CNV afirma
que deve ser “composta de forma pluralista”. Ou seja, entende-se, na mente do
legislador o pluralismo na escolha dos sete membros faria com que várias
correntes estivessem ali representadas. Sem dúvida, pode ser fator de
reconciliação que pessoas de diferentes ideologias investiguem e denunciem
violações de direitos humanos, não importa quem os tenha perpetrado. O Poder
Executivo mandou às favas tal recomendação. Nomeou gente de um só espectro
ideológico. Aqui está outro mea-culpa a ser feito, fato recentíssimo, normal
que aconteça antes de exigir dos comandantes militares mea-culpa sobre acontecimentos
de décadas atrás.
Os privilegiados da CNV (regem-se segundo lei
privada, só para eles) exigem o mea-culpa militar, para que acontecimentos censuráveis
de décadas atrás, nunca mais se repitam. De minha parte, eu, cidadão comum,
quero o mea-culpa da CNV para que a hipocrisia atual não tenha direito de
cidadania na vida pública brasileira e continue a alardear impunemente suas
falsidades e parcialidades tendenciosas. É a minha mobilização pela verdade e
pela memória, para fincar alicerces idôneos à necessária e verdadeira política
de reconciliação. Quem não vê que é desumano e hipócrita exigir de oficiais
superiores no comando de suas instituições que façam mea-culpa, quando se cala
despudoradamente e não se leva na menor conta o sangue derramado por colegas de
farda, que tombaram na defesa da pátria, lutando contra organizações que
queriam extirpar a democracia de nossas terras?
Não acabou não. A CNV está torrando dinheiro
público a mancheias. Este dinheiro em vez de alimentar atividade deletéria de
burgueses empanturrados e privilegiados, a esquerda caviar, poderia muito bem
estar sendo utilizado para pôr comida na mesa do pobre, tratar doentes e
banguelas, que gramam de sol a sol desamparados pelo Brasil afora. Aqui outro
mea-culpa prévio: pedir perdão público aos pobres por estar surrupiando
dinheiro que normalmente deveria minorar sua sorte e, em vez disso, vem sendo
torrado irresponsavelmente em atividades de propaganda ideológica destruidora.
Seria ato meritório favorecedor de saudáveis políticas sociais.
Em resumo, tal medida, do jeito que está sendo
exigida, vai botar o Exército de joelhos e estadear sua capitulação
incondicional. Minha proposta de reconciliação: que antes os membros da CNV e o
Executivo façam os mea-culpa que claramente devem à opinião pública, deem bom
exemplo, evidenciem sinceridade e então solicitem aos comandantes das três
armas um documento sensato, que eles teriam dificuldade de recusar. Ou então, se
infelizmente obstinados na hipocrisia, pelo menos tenham a decência de não mais
promover a desarmonia na sociedade brasileira. E então, coerentemente, calem a
boca, deixem de torrar nossa paciência e de tratar os brasileiros como idiotas.
Um comentário:
Putzzzzz! Vossa Senhoria tem tutano! Gostei! A Lei da Anistia é a Lei do Perdão, e quem perdoa, só pode perdoar se esquecer o passado. Ficar removendo cinzas de uma fogueira extinta por Lei, em "insana e furiosa" busca de algo que possa arranhar a ilibada conduta dos nossos Militares, é algo que faz o Fuhrer, Goering, Goebbels e outros nazis se contorcerem no túmulo (ou no inferno) Gustavo Ibraim Ceron
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