Desacordos esclarecedores
Péricles Capanema
O texto poderia ter como cabeçalho “Necessidade urgente de discriminação
positiva”. Com efeito, faz falta ação afirmativa para grupo de vulneráveis, no
caso enormemente relevante. Vou começar uma agora. Já que ninguém fala por ele,
serei eu o pequeno porta-voz autonomeado.
Grupos vulneráveis, sabemos todos, são coletividades que necessitam de
proteção especial do Poder Público (ou, de forma análoga, estendendo o
conceito, da opinião pública). São as vítimas da seleção natural (ou da seleção
cultural). Então o Estado faz em relação a eles a intitulada discriminação
positiva, favorece-os de alguma maneira para assim restabelecer a igualdade
proporcional. Privilegia-os, às vezes sensatamente. A palavra vem hoje
carregada de preconceito, é manipulada por esquerdistas e progressistas. Na análise
fria, trata-se da criação de privilégios, alguns razoáveis, repito, avanços; outros
absurdos, retrocessos, quando inibem a competição justa e o prêmio ao mérito
justificado.
Privilégios, ensina a etimologia, são leis privadas, só valem para
determinada coletividade. É necessário notar, no presente os movimentos
revolucionários utilizam a discriminação positiva para tentar impor a igualdade
gradual em setores da sociedade, prejudicando a harmonia social, mais
amplamente, o bem comum.
Temos ações afirmativas em relação a crianças, adolescentes, empregados,
idosos, mulheres, negros, colégios públicos, homossexuais, índios, pobres, deficientes
físicos e mentais, refugiados. A lista não para de crescer.
Transporte público gratuito e preferência nas filas, por exemplo, para
idosos (gente que já passou dos sessenta anos). Outro, cota de 30% para as
mulheres nas listas de candidatos dos partidos; e ainda 30% do Fundo Eleitoral.
Na prática, tem sido terreno fértil para falcatruas. Uma terceira, critério especial
para vagas nas instituições federais de ensino superior (para as de ensino
médio federais os critérios são praticamente os mesmos), a chamada lei das
cotas. 50% das vagas (mínimo) estão destinadas a alunos provenientes de escolas
públicas; os outros 50% vão para os aspirantes de procedência diversa, em geral
do ensino pago. Dos 50% destinados à rede pública, a metade fica com pretendentes
provenientes de unidades familiares com renda igual ou menor a um e meio salário
mínimo por cabeça. A outra metade vai para os postulantes de unidades familiares
com renda superior a um e meio salário mínimo por cabeça. Nas vagas destinadas
à rede pública, porcentagem no mínimo igual à do último censo do IBGE para a
região de negros, pardos, indígenas e pessoas com deficiência é destinada a tal
grupo. Discriminações positivas.
Fazem parte de tendência universal e são em geral chamadas de ações
afirmativas. Negam na prática, ou pelo menos deixam de lado, o princípio
darwiniano do survival of the fittest (sobrevivência
dos mais aptos), base da seleção natural, a espinha dorsal do evolucionismo.
Vou propor agora uma ação afirmativa de alcance universal (calma, não é
norma positivada). Valeria até mais que norma legal, se entrasse fundo nos
espíritos. Acima, muitas vezes para promover a igualdade setores
revolucionários desconsideram a lei darwiniana, tida como natural do survival of the fittest. Os menos aptos
são protegidos.
Aqui, no segundo caso, com veremos, em geral para justificar uma
sociedade libertária, apegam-se à teoria da evolução e, com isso, pelo menos na
prática, contestam a ação de um Ser transcendente, legislador e providente
(Deus). Lá em cima, dão uma banana para Darwin. Aqui em baixo, vira um quase
deus.
Aos fatos. Inimigos efetivos da civilização ocidental, das mais variadas
procedências, pretendem impor, de maneira intolerante e obscurantista, o
darwinismo como dogma universal. Esteadas nele, a corrente de opinião criacionista
e os partidários do Intelligent Design
(Desígnio inteligente) são furiosamente atacados nos Estados Unidos (aqui
também e alhures). Certamente você já leu e ouviu muita gente, com escora na
teoria de Darwin, descer a madeira nos criacionistas, como se todos eles fossem
propagadores de disparates.
Aos fatos. Circula desde 2001, sem grande divulgação, manifesto intitulado
“Dissent statement” (em tradução livre, “Posição discordante). Esse “Dissent
Statement” já tem mais de mil signatários. Não são zé-manés, como é corrente em
proclamações de pretensos eruditos por aqui. Colocaram ali suas assinaturas
grandes especialistas dos Estados Unidos, Rússia, Hungria, Inglaterra, França, Israel,
para citar alguns países. Entre outros, são doutores e professores de Harvard,
Yale, Princeton, MIT, Cambridge, Universidade Ben-Gurion de Israel. Inclui grandes
nomes em biologia molecular, bioquímica, entomologia, química quântica
computacional, microbiologia, psiquiatria, biologia marítima, física, antropologia;
paro por aqui.
Formulam pedido sensato e, quem sabe, por causa da sensatez, furiosamente
atacado: “Somos céticos a respeito das afirmações da possibilidade da mutação
fortuita e da seleção natural serem responsáveis (e causa) da complexidade da
vida. Deve ser encorajado o exame cuidadoso das razões apresentadas como
fundamento da teoria de Darwin. Existe discordância científica em relação ao
darwinismo. Merece ser ouvida”. Enfim, reclamam estudo e reexame, mas nem isso
é tolerado. E alguns deles colocam uma evidência inafastável: nunca houve um
exemplo documentado de uma mutação genética que acrescentou informação genética
em vez de destruí-la. O dr. Michael Egnor da Stony Brook, instituição nova-iorquina
de nome, sustenta que “intuitivamente os cientistas sabem que o darwinismo
explica algumas coisas, mas não outras” E continua, os partidários do
darwinismo “nunca se colocaram de maneira científica se a mutação fortuita e a
seleção natural podem gerar a informação contida nos seres vivos”.
São milhares de bons cientistas empurrados de lado, silenciados por repressão
implacável. Sabemos, a “peer pressure” e a sanção social podem ser piores que a
lei da mordaça inscrita em códigos. Tais homens de estudo vivem hoje em
situação de vulnerabilidade, e só por isso merecem que de começo já se lhes seja
destravada a língua. Pelo bem da ciência, pelo progresso da humanidade, por
pena deles, são claros credores de ação afirmativa, de serem discriminados
positivamente para que se restabeleça certa igualdade em relação a colegas seus
prestigiados por posições, microfones, divulgação e dinheiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário