sexta-feira, 18 de novembro de 2022

O povo vai tomar na cabeça

 

O povo vai tomar na cabeça

 

Péricles Capanema

 

Reconhecimento, contrição, reparação. Pedro Malan, Armínio Fraga e Edmar Bacha, economistas conceituados, sentiram-se incomodados com as desconcertantes e demolidoras declarações de Lula zombando da responsabilidade fiscal, da alta do dólar e da queda dos índices da Bolsa. Afinal, parte da credibilidade do novo governo petista veio do apoio deles que, infelizmente jogando fora a responsabilidade que deveriam ostentar e fazendo uso da respeitabilidade, declararam apoio a Lula, sem que opetista\ oferecesse contrapartida. O cheque em branco está sendo compensado. Alckmin, Tebet, Malan, Armínio, Bacha, Meirelles, tantos outros, dezenas, queiram ou não, são corresponsáveis pelo desastre. A carta de Armínio, Malan e Bacha, texto c laramente redigido às pressas, é um primeiro distanciamento, um grito de angústia que poderá sanar, havendo reparação à altura, o mal que já foi feito. O caminho é conhecido e já foi trilhado por muita gente. É a rota dos penitentes. Reconhecimento da falta, contrição pelo que fez, reparação do mal. Cantado ao longo das gerações, ensinado sem cessar, pregado com insistência, gravando nas mentes a prece inigualada do salmo 50: “Miserere mei Domine secundum magnam misericordia tua”. É o que falta na carta de conselho, advertência e esclarecimento. E que poderá vir a ser premonitória.

 

Pobres, as maiores vítimas do descontrole fiscal. A carta dos três economistas é didática. Corta o passo para aa demagogia fácil e mentirosa: “A responsabilidade fiscal não é um obstáculo ao nobre anseio de responsabilidade social. O teto de gastos não tira dinheiro da educação, da saúde, da cultura, para pagar juros a banqueiros gananciosos. Não é uma conspiração para desmontar a área social”. Nega que o passado de rigor fiscal, presente em boa parte do primeiro governo de Lula seja garantia para o futuro, pois os primeiros passos e declarações no governo de transição apontam para o descalabro nas contas pública\s: : “Seu histórico de disciplina fiscal basta? A verdade é que os discursos e nomeações recentes e a PEC (proposta de emenda à Constituição) ora em discussão sugerem que não basta”. Conclui com o que virá (e já aconteceu onde as políticas da esquerda foram aplicadas”: “Quem vai sofrer mais é o povo simples”.

 

Esvaziando o balão da demagogia. Os três economistas manifestam, ainda didaticamente, seu desconforto com a demagogia delirante que perpassa as falas do presidente e de muitos corifeus da nova situação que ameaça o Brasil: “O dólar e a Bolsa são o produto da ação de todos. Muita gente séria e trabalhadora. O dólar alto significa certo arrocho salarial. A Bolsa é hoje uma fonte relevante de capital para investimento real”.

 

Tenha dó dos pobres, Presidente. Sob certo aspecto, a carta pode ser resumida na súplica: tenha dó dos pobres, Presidente, pare de fazer demagogia. Diz a missiva: “Quando o governo perde o seu crédito, a economia se arrebenta. Quando isso acontece, quem perde mais? Os pobres!”. Advertem contra a irresponsabilidade que paoca em várias manifestações na transição, em particular nas palavras de Lula: “O crédito público no Brasil está evaporando. Hora de tomar providências, sob pena de o povo outra vez tomar na cabeça”.

 

Carta sem resposta. Lula fugiu de responder à missiva, disse algumas generalidades, continuam pairando sobre a economia as ameaças da gestão irresponsável, intervencionismo desbragado, asfixia da iniciativa, ameaças à segurança jurídica e à propriedade. Em resumo, retrocesso, queda do emprego e renda, empobrecimento.

 

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