sábado, 30 de setembro de 2017

Maçã envenenada

Maçã envenenada

Péricles Capanema

Maçã é ótimo. An apple a day keeps the doctor away, garante velho brocardo inglês. Se podre, pode intoxicar, até matar. Vou falar sobre leilão de privatização, realizado na Brasil, Bolsa, Balcão (B3) em São Paulo. Dele se gabou o presidente Michel Temer no twitter (27 de setembro): “Nós resgatamos definitivamente a confiança do mundo no Brasil. Leilão das usinas da Cemig rendeu R$12,13 bilhões, acima das expectativas do mercado”.

Não vejo motivos para gabolices. Podem ser passos rumo ao abismo. Privatização? O governo passou à iniciativa privada (iniciativa privada?) quatro usinas da CEMIG (Companhia Energética de Minas). São concessões por 30 anos, prorrogáveis. Com isso, a estatal mineira perdeu 36% de sua capacidade de geração.

A maior delas, a usina São Simão, tem potência instalada de 1.710 megawatts (58% do total oferecido). A seguir, a Jaguara, 424 (15%), a Miranda, 408 (14%), finalmente a Volta Grande, 380 megawatts (13%).  O maior lance, natural, foi para a Usina de São Simão, 7,2 bilhões de reais, ágio de 6,51%. Arrematou-a o grupo chinês SPIC Pacific Energy, estatal, tem 140 mil empregados. Lembro o óbvio: é dirigido pelo governo e Partido Comunista Chinês. Num só lance, o Partido Comunista chinês passou a controlar 21% da anterior capacidade de geração da CEMIG. Não pode ser diferente, o grupo SPIC vai atuar no Brasil em consonância com os interesses do governo e do Partido Comunista da China.

Todos estão enxergando, o setor elétrico no Brasil, sob silêncio pesado, vai caindo no colo dos comunistas chineses (não só o setor elétrico, os tentáculos vão bem além dele). Voz isolada, mais de um ano atrás, a jornalista Maria Luíza Filgueiras, na Exame, alertou: “A bagunça causada pelo governo Dilma e a crise da Lava-Jato estão entregando, de mão beijada, o setor elétrico brasileiro para um grupo de estatais chinesas”.

Em geral, a investida do comunismo chinês sobre setores da infraestrutura brasileira vem sendo acobertada entre nós por um mantra: aplicações de investidores estrangeiros. Pululam na imprensa manchetes sobre tais aplicações. Soa simpático. À vera, age como bruxedo aliciador e embusteiro por ocultar cavilosamente ponto essencial: o poder na China é imperialista, totalitário, coletivista e ateu. Pelo menos em uma coisa somos campeões, no emprego de eufemismos irresponsáveis e covardes.

A Jaguara foi arrematada pelo Consórcio Engie Brasil Energia S.A e Engie Brasil Energia Comercializadora, 2,2 bilhões de reais, ágio de 14%. A Engie é um conglomerado francês. Segundo o site do grupo, 28,65% do seu capital pertence ao Estado, que tem 36,68% dos votos. É acionista determinante, informa a imprensa francesa. A Miranda também foi arrematada pela Engie, 1,4 bilhão de reais, ágio de 22%.

A Volta Grande, por 1,4 bilhão de reais, ágio de 10%, ficou com a Enel, italiana, da qual o Ministério da Economia e Finanças detém 21% das ações.

Continuo no setor elétrico. Wilson Ferreira Junior, presidente da Eletrobras, especializada desde décadas em dar prejuízos amazônicos aos contribuintes brasileiros, foco do próximo escândalo (o eletrolão, se começarem a investigar o setor) anuncia enérgicos planos de recuperação. A estatal que, além dos prejuízos estratosféricos, gera mais de 30% da eletricidade no Brasil e detém 47% de sua rede de distribuição está agora combatendo a elefantíase que a acomete desde o nascimento, mais de 50 anos atrás. Cortou 700 cargos de gerentes (com isso melhorou a gerência da empresa). Tinha 11 softwares de gestão, vai reduzir a um. Avisa Ferreira Júnior: “Para a contratação do sistema operacional único, nós levamos oito meses, enquanto uma empresa privada faz isso em dois”. Vai adiante: “Vendemos a Celg com 28% de ágio e as outras seis empresas de distribuição serão vendidas até o fim do ano. E temos 74 sociedades de propósito especifico à venda, sendo que 58 delas são de energia eólica, e o restante, de transmissão. As vendas vão fazer com que a dívida da Eletrobras caia 6 bilhões de reais, para 17 bilhões”. Sobre as distribuidoras constatou: “Geram prejuízos, empregam 6 mil pessoas”. Imagina o futuro: “A Eletrobras é uma holding que tem quatro ativos principais: Furnas, Chesf, Eletronorte e Eletrosul. Acredito na transformação da Eletrobras numa empresa brasileira como a Embraer. O governo não seria mais o controlador”. Alerto agora eu: com base no que vem acontecendo: a China comunista vai ficar com parte importante desses ativos.

A privatização de si é ótima: traz racionalidade de custos, produtividade, competitividade, melhores serviços aos usuários. Diminui o poder do Estado sobre o cidadão, acaba com rombos orçamentários que pesam no cangote do contribuinte. Permite que o dinheiro público poupado da ineficiência, gastança e corrupção seja empregado em escolas, postos de saúde, tanta coisa mais. Ainda lembro, aumenta riquezas, gera renda, cria empregos. Bastaria o exemplo do setor da telefonia no Brasil. Nada disso coloco em tela de juízo. E nem proponho políticas nacionalistas, reservas de mercados, fechamentos ao capital estrangeiro.

Só destaco o óbvio ululante: inscientes (o mínimo), estamos criando gravíssimo problema de segurança nacional com a entrega a potências estrangeiras, mais especificamente, ao comunismo chinês, de setores-chave da economia nacional, em geral infraestrutura. Segurança nacional é irmã gêmea de independência nacional.

Todos estão vendo, cada vez mais a China hoje se ergue como o grande adversário dos Estados Unidos e o Brasil, se não acordar, caminha para ser peão chinês desse jogo. Coerentemente, também não vejo com tranquilidade estatais de outros países gerindo parte importante da riqueza nacional. Elas são instrumentos de governos, que vão e vêm segundo eleitorados instáveis. Privatizar deveria significar o que é: entrada do capital privado, nacional ou estrangeiro, em setores antes controlados pelo Estado.


Estamos diante de indiferença suicida, anestesiadas misteriosamente as fibras do patriotismo e da religião. Em 1453 caiu Constantinopla. Ainda havia resistência na cidade sitiada, mas, dizem historiadores, os bizantinos por descuido deixaram semiaberta o portão da muralha noroeste. Por lá entrou destacamento otomano e decidiu a batalha. Temamos portões deixados abertos por descuidos, otimismos e superficialidades.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Adiamento perigoso

Adiamento perigoso

Péricles Capanema

Não vou tratar hoje de assunto agradável. Momentoso, sim, necessário; para muitos, distante. Em 30 de setembro de 1938 Neville Chamberlain, primeiro-ministro inglês, voltando de Munique, após encontro com líderes da Alemanha, Itália e França, pronunciou célebre discurso prometendo “paz para o nosso tempo”. As tratativas do premir inglês, levadas a cabo no quadro da política de appeasement, pareciam ter varrido do horizonte o monstro da guerra na Europa. Um ano depois, na madrugada de 1º de setembro de 1939, a Alemanha invadiu a Polônia. Em resposta, a França, o Reino Unido e a Commonwealth declaravam em 3 de setembro a guerra à Alemanha. Começava a 2ª Guerra Mundial.

Na ocasião isolado e incompreendido, um velho político inglês trovejou contra os chamados acordos de Munique: Winston Churchill. A ele foi atribuída a frase endereçada a Chamberlain: “Tínheis a escolher entre a vergonha e a guerra. Escolhestes a vergonha, tereis a guerra”. Retrata com fidelidade sua posição no Parlamento ninado pelo fascínio da paz. De fato, afirmam estudiosos da obra do antigo primeiro-ministro, tal frase nunca foi dita, a legenda terá origem em carta de 13 de agosto de 1938, endereçada a Lloyd George: “Penso que nas próximas semanas teremos de escolher entre a guerra e a vergonha e tenho poucas dúvidas sobre qual decisão tomaremos”. A legenda tem direitos, simpáticos, aliás; tantas vezes põe cor, relevo e nitidez na realidade.

Desde a ascensão do nazismo ao poder, Churchill lutara pelo rearmamento inglês e recusava contemporizações que, para ele, tornariam mais devastador, sofrido e problemático o confronto que via inevitável. Na prática, a Alemanha nazista se utilizou do tempo ganho nas tratativas para se armar ainda mais e preparar melhor as agressões.

Como pesadelo, tudo isso me veio à cabeça ao ler as sanções impostas de forma unânime pelos 15 membros Conselho de Segurança da ONU à Coreia do Norte, como resposta à explosão da bomba nuclear em 3 de setembro último. É a sexta bomba coreana e a nona sanção da ONU, a primeira de 2006. Em cada vez, a situação se apresenta mais grave.

Para obter a unanimidade no Conselho de Segurança, os Estados Unidos aceitaram aguar a proposta inicial. Por causa da oposição da Rússia e da China, desistiram da suspensão total das exportações de petróleo para a Coreia do Norte e congelamento dos bens do ditador Kim Jong-Un. Liu Jieyi, embaixador da China, reiterou que a solução da crise deve ser por meios “pacíficos, diplomáticos e políticos”. Enfatizou ainda que outros países não devem buscar o fim ou o colapso do regime de Pyongyang, nem defender a reunificação apressada da península. Em resumo, duas condições inegociáveis impostas pela China: fica o regime, fica Kim Jong-Un. Terceira, a reunificação por enquanto não está na pauta.

Quanto às sanções, elas proíbem importações de produtos têxteis da Coreia e suspendem novas contratações de trabalhadores norte-coreanos no Exterior. Ninguém garante que a China, nem países da região as respeitarão. Como Cuba com seus médicos, para funcionar no mínimo, a Coreia do Norte precisa mandar trabalhadores para o Exterior, retendo (expropriando) o grosso do salário. Trabalham 95 mil coreanos fora, a maior parte na Rússia e na China. A resolução limita ainda a venda de petróleo à Coreia do Norte, o teto ficou em 2 milhões de barris por dia para produtos refinados. Também não há certeza de que a China, a maior fornecedora, obedecerá ao limite.

Nem vou continuar. Em artigo para o Washington Post intitulado “Por que as sanções não funcionam?”, reproduzido no Estadão, 15 de setembro, Adam Taylor constata: “A Coreia do Norte está sob sanções da ONU desde 2006. Com o tempo elas se tornaram mais fortes e outros países e entidades, incluindo Estados Unidos e União Europeia também impuseram medidas unilaterais”. O articulista põe o dedo na ferida: “China e Rússia, dois dos mais importantes parceiros comerciais da Creia do Norte, hesitam em aplicá-las”. Em parte, sanções para inglês ver.

A reação da Coreia do Norte foi violenta, compõe bem o cenário. Prometeu acelerar o programa nuclear, “redobrar esforços para incrementar seu poderio”. Nada de inesperado.

Os Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão afirmaram estar preparados para fazer mais pressão, caso Pyongyang se recuse a cessar o desenvolvimento de seu arsenal nuclear. Daqui a um ano, dois, quando se constatar que a Coreia não mudou o rumo, a situação estará pior que hoje. Virão novas sanções? E assim, até quando?

Claro como água do pote, a Coreia do Norte está caminhando para ser potência nuclear com capacidade de transportar bombas em foguetes transcontinentais. E, como reação lógica, está crescendo no mundo político e na opinião pública em geral no Japão e na Coreia do Sul a exigência de que esses dois países se armem nuclearmente. No futuro, ruminam, o que poderá valer o guarda-chuva norte-americano, seguro por líderes que bradam o “America first”?


Parece-me óbvio, os Estados Unidos têm os meios para resolver a contento a questão. Preocupa, cada adiamento aumenta em muito os custos da solução. Lembro outra frase de Winston Churchill: “Você pode sempre confiar em que os norte-americanos farão a coisa certa ▬ depois de tentarem todo o resto”.

domingo, 10 de setembro de 2017

O dever de ajudar a Venezuela

O dever de ajudar a Venezuela

Péricles Capanema

Normal seria hoje comentar a sórdida corrupção revelada nos últimos dias. Contudo, não será meu foco. Quero falar de fato alvissareiro.

Do pântano, destaco, porém, andrajo enlameado, não o vi ainda apontado: a indiferença suicida. Antônio Palocci falou do “pacto de sangue” entre Emílio Odebrecht e Lula. Sponte propria, o dono da empreiteira teria oferecido ao ex-presidente, no intuito de preservar a relação privilegiada da empresa com o governo, pacote que incluía um sítio (presente pessoal), a sede do Instituto Lula, palestras a R$200 mil líquidos, pagos os impostos, e ainda R$300 milhões, uso livre, para custear atividades políticas (claro, poderia também cobrir gastos pessoais).

Em apenas uma das doações, um dos maiores representantes do macrocapitalismo brasileiro pôs R$300 milhões à disposição da propaganda petista. É montanha de dinheiro para dar popularidade a programa que acarreta empobrecimento generalizado, atraso e sofrimento para o povo em geral. Clara opção preferencial pela pobreza e tirania, como em Cuba e Venezuela, onde, aliás, a Odebrecht financiou generosamente as campanhas de Chávez e Maduro. A mais, fortalece programa favorecedor do coletivismo e do intervencionismo. Da parte da cúpula da empreiteira, pelo que se percebe, indiferença total, suicida, com a agressão aos interesses do Brasil, do empresariado e do povo em geral. Passo ao agronegócio. Constato ali, temo que generalizada, a mesma indiferença suicida. Depoimento de Joesley Batista, dos maiores pecuaristas, se não o maior, do Brasil: “Ele [Lula] me ligou esses dias, pediu para mim [sic!] atender os sem-terra. Eu digo ‘ô presidente’(risos) ‘Joesley, eu tô aqui com o [João Pedro] Stédile não sei o que ele precisa falar com você’ ...’Tá bom, presidente, manda ele vir aqui. Eu atendo ele, tá bom’”. No meio do riso, a promessa tácita de financiamento do MST. E o MST iria utilizar o dinheiro, sabia-o Joesley, para agredir os fazendeiros e favorecer o comunismo no Brasil. O mais grave, não são dois exemplos isolados. São exemplos sintomáticos, são sem-número os casos parecidos na política, na religião, nos negócios, nas escolas. Tal insensibilidade morfética provavelmente constitui a pior ameaça ao nosso futuro de nação próspera, ocidental e cristã.

Falei da Venezuela. A boa notícia vem de lá. O Episcopado, por suas figuras mais expressivas, está reagindo energicamente contra a tirania chavista. E o fato, reatividade de organismo vivo, tem importância enorme para a Igreja e para a sociedade.

Cinco bispos, dos quais dois cardeais, solicitaram audiência ao Papa Francisco para expor a grave situação do país. A agenda já estava pronta. Greg Burke, o porta-voz do Vaticano garantiu, haveria “um rápido cumprimento”. Antes do encontro, já em Bogotá, um dos cinco, dom Jesús González, bispo auxiliar de Caracas, declarou publicamente, esperavam ser recebidos. Óbvio, não apenas para “cumprimento rápido”. Após a missa celebrada no Parque Simón Bolivar em Bogotá o Papa falou com eles. Melhor talvez, ouviu-os. A delegação era formada, como disse, por dois cardeais, dom Jorge Urosa, arcebispo de Caracas, dom Baltazar Porras, arcebispo de Mérida, dom José Luis Azuaje, bispo de Barinas, dom Mario Moronta, bispo de San Cristóbal, e dom Jesús González. A respeito do encontro, a Conferência Episcopal Venezuelana [presidente, dom Jorge Urosa; vice-presidente, dom José Luis Azuaje] emitiu comunicado forte e expressivo: “O Pontífice mostrou sua preocupação pela agudização da crise humanitária, manifestada na fome e na escassez de remédios, bem como pela emigração de numerosos venezuelanos. Também foi informado da imposição da Assembleia Nacional Constituinte e da perseguição que alguns dirigentes, ameaças a sacerdotes e religiosas e fechamento de meios de comunicação social”.

De outro lado, pouco antes, na 5ª feira, o arcebispo de Caracas havia denunciado ao diário El Tiempo, o principal de Bogotá: “É claro que existe uma ditadura na Venezuela, já que foi anulado o Parlamento. A seguir foi instituído um órgão absolutamente inconstitucional, torpe e fraudulento, a Assembleia Nacional Constituinte. É um sistema ditatorial em que não há divisão de poderes e não se respeitam os direitos fundamentais, ou seja, nem os estabelecidos na Constituição Nacional”.

No quadro de aberta oposição da Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) ao governo Maduro, um de seus órgãos, a Comissão Justiça e Paz em documento assinado por dom Roberto Lückert León, presidente (antigo arcebispo de Coro) afirma o seguinte: “A Comissão Justiça e Paz, considerando a situação, tanto dos presos políticos, como dos presos comuns, evidenciada nas denúncias de familiares e do Observatório Venezuelano de Prisões, nas quais se descrevem tratamento cruel e desumano nos traslados e nos próprios centros de reclusão, situações anti-higiênicas, alimentação precária, falta de remédios, falta de assistência jurídica, impedimentos para visitas de familiares e falta de assistência médica. Exigimos que cesse a caça às bruxas contra os cidadãos que não pensam como o regime; exigimos que a família do general Raul Isaias Baduel seja informada de seu paradeiro e estado de saúde. Esta comissão eclesial exige o fim da perseguição, da tortura física e psicológica que indica sanha e violência contra tais cidadãos. Exigimos justiça. Caracas, 10 de agosto. Dom Roberto Lückert León, presidente.

Outro órgão da CEV, a Rede Latino-americana e Caribenha de Migração assim se manifestou: “Queremos manifestar nossa solidariedade ao povo venezuelano que nesse momento vive uma crise humanitária, caracterizada pela escassez de alimentos e remédios, colapso dos serviços públicos, inflação mais alta do mundo, violência sem limites e graves violações dos direitos humanos. A Conferência Episcopal Venezuelana assinalou profeticamente: ‘Em nosso país se percebe de forma muito clara como a violência adquiriu caráter estrutural. São muitas suas expressões’. Esta situação que atenta contra a vida e a dignidade dos venezuelanos e venezuelanas, forçou milhares e milhares a deixar o país, em diáspora sem precedentes”.


Cada um ▬ sem nenhuma indiferença, que no caso teria uma nota suicida ▬, em seu âmbito, precisa ajudar a Venezuela enfraquecida a sair do abismo, no momento em que forças poderosas a empurram para mais fundo. Rússia, China, Nicarágua, Bolívia, assim como o PT e vários partidos de esquerda no Brasil trabalham a favor da clara opção preferencial pela tirania e pela fome na Venezuela. É gravíssimo. Um lembrete. Temos aqui ótima ocasião para que a CNBB, abandonando sua conduta de dócil companheira de viagem das causas da esquerda, apoie com força sua brava coirmã, a CEV. Exposta ao perigo, increpando exclusões, a CEV leva adiante cruzada em defesa do povo humilde e da nação perseguida. A mudança de rumos, tomara, será sintoma de que, por fim, a CNBB começou a ouvir os clamores do povo. O bom exemplo edificaria a todos os brasileiros.

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Humilhação e esperança

Humilhação e esperança

Péricles Capanema

A viagem do presidente Michel Temer a Pequim deu origem a 14 acordos. Deixo de lado o memorando de cooperação relativo ao futebol e outros penduricalhos. Falo sobre financiamentos oficiais da China ao Brasil e compra de ativos de empresas brasileiras por estatais chinesas.

A propósito e de passagem, durante os dias em que Temer lá esteve, a estatal chinesa CMPort (China Merchant Port) comprou por R$2,9 bilhões 90% do TCP, terminal de cargas de Paranaguá. O terminal movimenta 10% dos contêineres no Brasil. A CMPort, agora dona, assim anunciou a nova propriedade em seu site: “A CMPort compra 90% do segundo maior porto do Brasil. A China Merchant Port Holdings Company Limited (CMPort) tem a satisfação de anunciar que comprará 90% do Porto de Paranaguá”. Ainda no site se pode ler: “O China Merchant Group é um conglomerado de propriedade estatal.” Administra ativos próximos a US$1 trilhão, teve lucro de aproximadamente U$8 bilhões no ultimo exercício. É estatal semelhante à Petrobrás no Brasil, com ações negociadas em Bolsa. Qualquer director só é nomeado com o acordo do governo e do Partido Comunista Chinês. De outro modo, longa manus do governo e do PC chineses. A garra se fincou no porto de Paranaguá.

Volto aos resultados da viagem do presidente Michel Temer selecionando trechos de ampla notícia do diário espanhol El Pais — são destaques meus os NB: “As autoridades chinesas respaldaram na sexta-feira o programa de privatizações realizado pelo presidente Michel Temer. O presidente chinês Xi Jinping insistiu no aumento dos intercâmbios econômicos entre as duas nações, e indicou novos investimentos de seu país ‘nos setores energético, agrícola e de infraestrutura’ do Brasil. São, justamente, parte das áreas que Temer quer abrir ao setor privado, acreditando que a China desempenhará um papel determinante. Os dois países assinaram 14 acordos bilaterais, dentre os quais se destacam a aprovação de uma nova linha de crédito de 300 milhões de dólares [NB: crédito estatal] ao Banco do Brasil e outro preparatório para que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) receba uma linha de 3 bilhões de dólares [NB, outra vez, crédito estatal] uma confirmação de que a China tem se tornado o grande banqueiro do Brasil [NB: repito, dinheiro de bancos estatais chineses]. Na área da infraestrutura, a empresa chinesa State Grid [NB: estatal] assinou a licença para as obras da linha de alta tensão entre o Xingu e o Rio de Janeiro, enquanto a China Communication and Construction Company [NB: estatal] investirá 700 milhões de dólares na construção de um terminal de uso privado no porto de São Luís. A China National Nuclear Corporation [NB: estatal] assinou também um memorando de entendimento com a Eletrobras para continuar com a construção da usina nuclear de Angra III. Afirmou Zhang Run, subdiretor para a América Latina e o Caribe no Ministério das Relações Exteriores chinês: “O Governo continuará incentivando as empresas chinesas a participarem ativamente na cooperação econômica e comercial com os países da América Latina, incluindo o Brasil e a Venezuela”. Sobre o programa de privatizações disse a El País Li Yinsheng, executivo-chefe da China Three Gorges Brazil [NB: estatal], que opera duas das maiores hidrelétricas do país, em Ilha Solteira e em Jupiá”: “Temos interesse nesse plano”. Aviso de novo: em princípio, acho benéfica a presença de capital estrangeiro privado no Brasil, sou favorável a privatizações e concessões, mas não desse jeito. Está em jogo a soberania nacional; mais fundo, nosso futuro de nação cristã, com raízes ocidentais.

Este artigo, em parte, é costura de citações. O motivo, escrevi tantas vezes sobre o tema que me dispenso de repetir aqui o que lá atrás já denunciei. Uma constatação resume tudo: estatais chinesas, dirigidas pelo governo e pelo Partido Comunista Chinês (PCC), estão avançando com garganta de jacaré sobre a economia brasileira. E o maior parceiro comercial do Brasil é a China comunista. Como resultado, querendo ou não, aqui também é constatação, vamos sendo arrastados da condição de país formalmente independente e soberano para a de, na prática, protetorado chinês, no caso sujeitos a um poder despótico, ateu, coletivista e totalitário. Não adiante chiar, fechando olhos para fato óbvio. Daqui a quanto tempo? Não sei; é claro o rumo, porém.

Continuo voz isolada, mas aqui e ali começam a pipocar constatações parecidas. É um bico de gás de esperança. Um sintoma, vejam extratos do editorial do Estadão, 5 de setembro: “Futebol de um lado, dinheiro e tecnologia do outro, isso resume a maior parte dos atos assinados por brasileiros e chineses. Muitos bilhões de dólares em créditos e investimentos. Os chineses passarão a controlar ativos importantes na área da infraestrutura. Os atos assinados remetem a uma deprimente história de erros do lado brasileiro. O governo brasileiro converteu o País em fornecedor de matéria-prima para o mercado chinês, numa relação semicolonial”. Relação semicolonial. De um lado, a semicolônia; do outro, a semimetrópole.

A primeira luzinha de esperança é ter nitidez sobre a gravidade do quadro. Começo a perceber. Cegos não vão  a lugar algum Outro ponto, vem apagando entre nós difuso otimismo superficial, amigo do devaneio, enraizado em ufanismo nacionalisteiro.


Serei sintético, só tratarei de um ponto, o espaço acabou. Por causa de sofrimentos e dificuldades, afirmou Nelson Rodrigues “aprendi a ser o máximo possível de mim mesmo”. Grande programa, vale para pessoas, escolas, empresas, nações. O Brasil sairá da humilhação, se aprender a ser o máximo possível de si mesmo, entendendo logo, o mais importante é favorecer condições para buscar a plenitude em todos os âmbitos. Trabalhando para que, em clima de harmonia social, temperança e diferenças proporcionadas, haja estímulo às potencialidades de cada um. Quanto mais melhor. É programa para pais, religiosos, líderes políticos e empresariais. Seriedade na família, esforço na escola, liberdade, garantias à propriedade e livre iniciativa na economia. Ajudado por Deus, o Brasil aprenderá assim a ser o máximo póssível de si mesmo.